1. (FUVEST) Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
Neste excerto, o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria
a) manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
b) revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
c) reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
d) opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
e) evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
ANÁLISE: A pergunta acima para ser respondida além de ter um conhecimento da obra, é necessário também saber em qual período ela foi escrita, Romantismo, para não cair nas "pegadinhas" e confundir o trecho com o Naturalismo, ou acreditar que o autor em sua escrita estava descrevendo a brutalidade dos Portugueses ou revelando preconceitos raciais. Como sabemos o Romantismo tem por característica o amor idealizado entre os casais, logo, sabendo que a obra está no contexto do Romantismo vemos que o amor que surge entre Leonardo e Maria não é idealizado ou sentimental, ao contrário surge de uma brincadeira da pisadela e do beliscão. Assim, a única resposta correta seria a "D".
2. (UFLA) Considerando a narrativa de Memórias de um Sargento de Milícias, é INCORRETO afirmar que a obra
a) Se passa nas ruas e casebres do Rio de Janeiro, retratando de modo grotesco a sociedade carioca: as festas, batizados, procissões. É um romance de costumes.
b) Pode ser considerada como romance pré realista, apresentando, contudo, vários pontos de contato com o Romantismo, como, por exemplo, o final feliz.
c) Possui foco narrativo em 1º pessoa, com o narrador sendo figura de destaque e participando de inúmeras passagens.
d) Apresenta uma linguagem marcada pelo tom Coloquial, o linguajar do povo, com as nuances típicas das “conversas das comadres, moleques soldados”.
e) Descreve as cenas com um toque de realismo e de documentário da vida da época, incorporando costumes e acontecimentos do Rio de Janeiro.
ANÁLISE: A letra C é a incorreta, pois a narrativa é realizada na 3º pessoa, onde o narrador está presente em todas as cenas, não apenas narrando os acontecimentos mais também os sentimentos de cada personagem durante toda narrativa.
3. (FUVEST) – Era este um homem todo em proporções infinitesimais, baixinho, magrinho, de carinha estreita e chupada, e excessivamente calvo; usava de óculos, tinha pretensões
de latinista, e dava bolos nos discípulos por dá cá aquela palha. Por isso era um dos mais acreditados na cidade. O barbeiro entrou acompanhado pelo afilhado, que ficou um pouco escabriado à vista do aspecto da escola, que nunca tinha imaginado.
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias)
Observando-se, neste trecho, os elementos descritivos, o vocabulário e, especialmente, a lógica da exposição, verifica-se que a posição do narrador frente aos fatos narrados caracteriza-se pela atitude:
a) crítica, em que os costumes são analisados e submetidos a julgamento.
b) lírico-satírica, apontando para um juízo moral pressuposto.
c) cômico-irônica, com abstenção de juízo moral definitivo.
d) analítica, em que o narrador onisciente prioriza seu afastamento do narrado.
e) imitativa ou de identificação, que suprime a distância entre o narrador e o narrado
ANÁLISE: No trecho apresentado, trata-se do primeiro dia de Leonardinho na escola e o narrador faz uma breve descrição da figura do pedagogo, apesar de o nome da obra ser Memórias de um sargento de Mílicas, o narrador não narra suas memórias porque trata-se de um narrador onisciente, ele descreve as memórias de Leonardinho e aqueles que os cerca com um tom irônico, tecendo comentários sobre o ato de narrar, recaptulando para o leitor episódios que são significativos para a narrativa, a alternativa que pode ser considerada correta é a letra “C”.
4. (FUVEST) Indique a alternativa que se refere corretamente ao protagonista de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida:
a) Nele, como também em personagens menores, há o contínuo e divertido esforço de driblar o acaso das condições adversas e a avidez de gozar os intervalos da boa sorte.
b) Este herói de folhetim se dá a conhecer, sobretudo nos diálogos, nos quais revela ao mesmo tempo a malícia aprendida nas ruas e o idealismo romântico que busca ocultar.
c) A personalidade assumida de sátiro é a máscara de seu fundo lírico, genuinamente puro, a ilustrar a tese da "bondade natural", adotada pelo autor.
d) Enquanto cínico calcula friamente o carreirismo matrimonial; mas o sujeito moral sempre emerge condenado o próprio cinismo ao inferno da culpa, do remorso e da expiação.
e) Ele é uma espécie de barro vital, ainda amorfo, a que o prazer e o medo vão mostrando os caminhos a seguir, até sua transformação final em símbolo sublimado.
ANÁLISE: O protagonista desde livro, ao contrario do esperado na época, era um anti-herói, um tipo que tinha mais defeitos do que qualidades, um cara comum, alguém que se misturava aos demais, um personagem que vive de “jeitinhos”, um típico malandro, como muitos outros personagens cometia alguns desvios de moral, mais sempre mantendo o humor e se aproveitando da boa sorte para se safar, no caso de Leonardo a esperteza e a sorte sempre o ajudavam a se “dar bem”.
5. Em relação à obra de Manuel Antônio de Almeida – MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS – pode-se afirmar que:
a) é uma autobiografia que relata, na primeira parte, as diabruras infantis do romancista e, na segunda, suas façanhas de adolescente.
b) é um texto biográfico que se concentra nas proezas, especialmente amorosas, do protagonista, e também relata, com rigor histórico, os acontecimentos do Segundo Reinado.
c) é um texto baseado em memórias alheias sobre as quais o narrador exercita a sua imaginação, sem deixar de relatar cenas e costumes da realidade do Segundo Reinado.
d) é uma biografia romântico-idealista, que relata as memórias sentimentais de um sargento de milícias, vivenciadas nas camadas baixas do Rio de Janeiro.
e) é uma autobiografia que relata as memórias do protagonista sem ocultar os defeitos de seu caráter e os costumes do grupo social da época do rei D. João VI.
ANÁLISE: O romance fala do Rio de Janeiro do inicio do Século XIX e que retrata um malandro da sociedade da época. Faz uma critica a sociedade, e que neste período a família real estava no Brasil, e o romance não e narrado pelo personagem, Leonardo e sim por um narrador onisciente em terceira pessoa. O romance e cheio de aventuras, confusões, ordem e desordem são as característicasda sociedade colonial, e o intuito do livro foi fazer a critica a esta sociedade, que fingia não saber o que se passava. Na época foi um escândalo revelar algo que a sociedade tinha conhecimento, mas que se fazia de cego, uma grande afronta.
Aline Aureliano Alves
Janete Pereira de Oliveira
Mariana Gouveia de Souza
Regiane Lopes da Silva
Rosana Cristina dos Reis Oliveira